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Educação brasileira: um olhar

Foto do escritor: Luciana ChamarelliLuciana Chamarelli

Trabalhamos seis meses. Os estudos realizados, nesse período, trataram das questões, dos acontecimentos, das tensões da história da educação brasileira desde o Império Português (final do século XVIII) até os dias atuais. Percorrendo os caminhos do curso, me deparei com marcas que foram historicamente impostas à educação, como a baixa qualidade do ensino, a fragmentação entre trabalho/escola e as péssimas condições de trabalho docente.


Difícil não se deixar seduzir pelas idéias de Capanema, Anísio Teixeira, Paulo Freire e Luiz Antônio Cunha, tal como eu fui. Cada um desses sujeitos foi visto numa dupla dimensão: como pessoas concretas, com suas bem-aventuranças e limitações; de outro, personagens de uma história que não cessa de ser narrada a cada ano, em cada turma. História vista não como um passado imutável, mas como uma ação ainda possível de mudança.


Ao refletir sobre as aulas, lembrei da imagem do historiador, evocada por Benjamin no seu ensaio “Sobre o conceito da História”, sendo aquele que desperta “no passado as centelhas da esperança (...). Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo como ele realmente foi, mas significa apropria-se de uma reminiscência” (Benjamin, 1994[1]a, p. 224).

Entre as personagens e os acontecimentos que se entrecruzaram nesse curso, destaco a aula do dia 26 de maio, na qual estudamos o capítulo 5 do livro “Educação e desenvolvimento social no Brasil” do Luiz Antônio Cunha. Na discussão do texto, a temática da escolaridade do Ensino Médio ser“tecnicamente desnecessário” para determinadas profissões foi destacado. É fato que concorde com a necessidade da reestruturação curricular do Ensino Médio atual, mas considerar uma etapa da Educação Básica “desnecessária” para determinadas profissões (como a de gari) é uma tensão que me move a destacar nesta síntese avaliativa.


Refletir sobre a máxima de que o modelo curricular atual do Ensino Médio ser “tecnicamente desnecessário” para algumas profissões é questionar e aprofundar a finalidade da seleção e da organização dos conhecimentos e das atividades pedagógicas na nossa realidade contemporânea. É entender que o “conhecimento escolar apropriado é o que possibilita ao estudante tanto um bom desempenho no mundo imediato quanto a análise e a transcedência de seu universo cultural” (Moreira e Kramer, 2007[2], p.1044). Para Dayrell (2007[3]), Nakano e Almeida (2007[4]), a relação juventude e escola só será atingida quando for possível combinar a universalização da escola básica com a integração do universo do trabalho e a vida dos jovens estudantes. No entanto não é conceber a escola como um negócio, reduzida a alcançar um dado fim e o currículo restrito aos conhecimentos e habilidade do mercado de trabalho.


É possível reconhecer que o currículo do Ensino Médio, por lidar com juventude, propicia a formação de novas identidades, mas não podemos esquecer que selecionar conhecimentos e atividades pedagógicas, a fim resolver problemas modernos, é um grande desafio. A pluralidade cultural, presentes na nossa sociedade, traz novos desafios para o currículo, nem sempre possíveis de serem resolvidos. Por isso, enquanto não há mudanças curriculares é preciso conviver com as contradições.


Sem promessa, apenas com paixão, os professores contribuem para suscitar uma compreensão mais profunda dos distintos problemas sociais do currículo na tentativa de amenizar o impacto “negativo” da escolaridade nas vidas dos jovens estudantes. E são tais iniciativas que dão motivo ao meu trabalho final do Mestrado. Os professores querem ser vistos como sujeitos sociais que são. E isso nenhuma política pública, nenhuma proposta de formação de professores ou de mudança do cenário educacional pode desconsiderar. No meu estudo, percebo os docentes como construtores, pois edificam autoridade, autoria, autonomia, conhecimentos, críticas e afetos em si próprios e nos seus estudantes. Entretanto, não se pode esquecer, que esses professores estão inseridos no coletivo, no social, em uma macroestrutura. Eles são, simultaneamente, atores e espectadores do sistema de ensino.


Certamente há muitas outras questões não contempladas sobre essa temática. Questões que revivem as contradições, paradoxos e confrontos: da alegria à tristeza, do sofrimento ao alívio. Tal é a nossa educação.


[1]BENJAMIN, W. Obras Escolhidas I: Magia e Técnica, Arte e Política. 7ª ed, São Paulo: Brasiliense, 1994a. [2]MOREIRA, A. F. B; KRAMER, S. Contemporaneidade, educação e tecnologia. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 28, n.100, p.1037 - 1058, out. 2007. [3]DAYRELL, J. A escola “faz” as juventudes? Reflexões em torno da socialização juvenil. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 28, n.100, p.1105 -1128, out. 2007. [4]NAKANO, M; ALMEIDA, E. de. Reflexões acerca da busca de uma nova qualidade da educação: relações entre juventude, educação e trabalho. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 28, n.100, p.1085 -1104, out. 2007.


Texto escrito em 2011.

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